Onde estava você quando o Vilipêndio lançou seu disco de estreia em 2002? Bom, talvez nem tivesse nascido, ou esteja hoje entre os veteranos que tenha adquirido – e perdido! – a cópia física do seu cd. Mas quer saber? Isso não importa: agora está disponível nas plataformas digitais o CD 15 Abismos, o primeirão da banda carioca. Agora todas as faixas estão lá no Spotify, Youtube Music, Deezer, Apple Music e Amazon Music. Sim, pode até parecer contraditório, mas essa gravação niilista foi parar nas plataformas digitais!
O disco traz músicas que até hoje são executadas pela banda, tais como “Olhos vermelhos”, “De olhos bem abertos”, “Paraíso” e “Crime Perfeito”.
A característica marcante desse trabalho de estreia é a simbiose entre o hardcore, o punk e o metal, com letras que transitam entre o sarcasmo e a crítica social. Sonoramente, a influência vai de bandas como Motorhead ao Slayer a outras de thrash. É possivelmente o CD da discografia do Vilipêndio que possui mais momentos hardcore, como em “Destruir”, “Medo” e “Verde e amarelo”, esta última, bem longe de ser um hino patriótico, demonstra, com deboche, uma metáfora para o que se conhece por Brasil. Também se destaca o conceito embutido em três faixas que, seguidas, dialogam entre si: “Tudo o que existe”, A realidade é”, e “Ambição”, formando uma epopeia depressiva. De modo geral, mesmo soando bem originais, as músicas demonstram sintonia com muito do punk/metal que se fazia na época e carrega influências de metal brasileiro oitentista, principalmente no aspecto da garra e das letras de protesto.
O Álbum traz “Crime perfeito” praticamente tocada em todos os shows desde então. “De olhos bem abertos”, também desse disco, é outra das preferidas e tem, em sua temática sadomasoquista, uma referência intencional a De olhos bem fechados, o clássico filme de Kubrick. O disco é o único registro (até agora!) com o baterista Alex Salinger, que não chegou a fazer shows com o grupo. Outros momentos muito lembrados pelos seguidores são “Olhos vermelhos” e “Eu defendo a lei”, que estão entre as mais intrincadas e polêmicas. Por sinal, 15 Abismos marcou a estreia da parceria de composição Bukowiski-Caulfield, que se estende também ao trabalho seguinte da banda, Um segundo de glória . A crítica reverberou entre o ótimo e o péssimo, e, em sintonia com a banda, não ofereceu meio termo.
O Vilipêndio termina o álbum com seu momento mais lírico, “Oração para os invejosos”, faixa melódica em que vários estilos de rock dialogam, com destaque para o solo de guitarra viajante.
Ficha Técnica
Ano de lançamento: 2002
Baixo e guitarra: Márcio Bukoski
Bateria: Alexandre Salinger
Voz e guitarra-solo: Ricardo Caulfield
Produção: Carlos Lopes
Estúdio Manhattan, Tijuca, RJ