A ETERNIDADE DO CAOS
As fotos duram para sempre/ O passado ainda bem que acaba/ As fotos duram às vezes/ O passado às vezes desaba/ A foto mostra a chuva/ O passado explica a água/ Na foto você navega/ No passado, você naufraga./ Você quer transformar a realidade em fantasia/ Então está na hora de tirar fotografias/ Com os olhos grávidos de saudade/ Lembra da roda gigante/ Do colar que você perdeu?/ Lembra daquela tarde quando a gente se conheceu?/ Estou na fotografia, mas este passado não é meu/ Histórias são oito/ As fotos são nove/ Não existe mentira/ que uma foto não comprove/
Que nada o atrapalhasse/ Quando Rui dirigia o seu táxi/ Tinha que economizar o máximo/ Para a festa de aniversário/ 15 anos de idade/ Uma festa pra valer/ 15 anos de idade/ Hmmm/ 15 anos de idade/ A vizinhança ia ter que saber/ Para ver a filha dançar a valsa/ Ele empenhou até a casa/ Para ver a filha dançar a valsa/ Ele arriscou o carro/ Para ver a filha dançar a valsa/ Se ele fosse um anjo/ negociava as próprias asas./ No bairro, era a festa mais importante/ Havia até um ator/ Para dançar com a debutante/ Naquela noite/ Assisti à eternidade/ Tão real para mim/ Éramos personagens/ Quando minha filha fazia sua dança/ Mas a vida seguiu/ Depois da festa, nada deu certo/ A ruína financeira tocou-lhe de perto/ Logo ele que não pagou o seguro/ Estraçalhou o carro contra o muro/ A conta da festa começou a chegar/ Ele não tinha como pagar/ a esposa gritava bem alto:/ “você é o grande culpado”/ Olho grande ou azar/ Que nome eu posso dar?/ Será que alguém pode me explicar?/ Tanta gente bebeu, tanta gente aproveitou/ E cada um ao seu jeito me invejou/ Três anos se passaram/ Só anteontem comprei um novo carro/ Minha esposa e minha filha foram morar em outro estado/
SALVANDO O MUNDO (E ENRIQUECENDO)
Por um ponto de vista/ O homem mente convincente / como um trapezista/ por um ponto de vista / Por um ideal/ O homem mergulha no lodo/ Apaga a chama do fogo/ Com um abraço glacial/ Com um abraço, com dois abraços/ Com um abraço glacial/ / Salvar o mundo pode ser um negocio lucrativo/ Construir uma rede de hospitais/ E uma fast-food de curativos/ Concorrer ao Nobel da paz/ Enriquecer com donativos/ Vamos salvar o mundo/ E ganhar um pouco de dinheiro/ Vamos salvar o mundo/ Antes que alguém salve primeiro/ Vamos salvar o mundo/ E ganhar um pouco de dinheiro/ Ações que ajudam o próximo/ Valorizam no mercado financeiro/ Salvar o mundo pode ser um negócio diferente/ Criar organizações não-governamentais/ Consolar socialites carentes/ Onde não te quiseram jamais/ Agora entras por trás ou pela frente/ Vamos salvar o mundo/ Antes que comece janeiro…
A NOITE DO VILIPÊNDIO
Forasteiro na própria terra/ Perdido nunca me vi/ Porque a noite estava comigo/ Ela sempre esteve aqui/ Todo dia ao ressuscitar/ Quem vai nos redimir de nós mesmos?/ A ampulheta se espatifou/ De quantos futuros eu me livro?/ No laboratório sou um ator/ Cobaia, veneno e antídoto/ Todo dia ao ressuscitar/ Quem vai nos redimir de nós mesmos?/ A noite segue a noite/ Não há dia em meu semblante/ Não preciso de bandeira/ Apenas a fronteira ao meu alcance/ Bem vindos à noite do vilipendio/ Esta é a noite do vilipendio/ Veja o céu cor de incêndio/ E a cicatriz que rasga o silêncio/ Diz que esta é a noite do Vilipêndio/ Entre cometas e meteoros/ Amanheço os meus olhos/ Com um big bang no bolso/ Eu me despeço dos destroços/
NENHUM MUNDO É O MUNDO QUE RESTOU
Os moralistas chegaram/ Não querem dividir o que já roubaram/ Levantam o punho com indignação/ Eles que rezam no templo da corrupção/ Pra onde eu vou?/ Pra onde eu vou?/ Nenhum mundo é o mundo que restou/ Lá vem nos bons moços/ E suas seitas/ Que só aceitam o belo e a riqueza/ Delicados fascistas/ Cheios de arrogância/ Eles são a elite da Massacrolândia/ Usamos a lei e a ordem contra os descontentes/ O progresso eu divido com os amigos e parentes/ A realidade, a maior farsa/ Deu na TV, eu acho graça/ / Refrão/ / Não acredito nas coisas que me atingem/ Não acredito na queda, não acredito na vertigem/ Acredito na dor porque grita na carne/ Acredito no tempo porque já é tarde/ Já é tarde!/
MEU NOME É VINGANÇA
Cabe dentro de qualquer peito/ O doce mantra da ameaça/ Quando a magoa define o desejo/ O passado cresce e se alastra/ / Não precisa talento para obter vingança/ Rancor é a música./ Você aguarda a dança/ Como você entender aquilo que eu sinto?/ Como você pode saber aquilo que eu digo?/ Não é você que está comigo/ / Matemática é subtração/ Sua lição é lembrar o passado/ Se você pede conselhos/ Mas seus ouvidos estão lacrados/ Não precisa tempo para obter vingança/ Você aguarda o embrulho feito uma criança/ O solo de guitarra que nunca termina/ Meu nome é vingança / O braço amputado que pede a seringa/ Meu nome é vingança/ O mundo que nunca para de bater/ Quando você olha o espelho/ E vê apenas um injustiçado/ Se você posa de vítima/ Agradeça ao seu adversário/
O SILÊNCIO QUE FOI COSTURADO
Eu ouço o grito, ouço o eco/ Ouço o apito, o trem está perto/ Ouço o silêncio, ouço o vão/ Pássaros são pedras/ Que esquecem o chão/ Você gosta da melodia que te faz adormecer/ Que te faz esquecer/ Mas eu sou o cara que não para de fazer a porta ranger/ Eu ouço a glória, ouço o conflito/ O “The end” que sangra no fim do capítulo/ Ouço a batalha sem vencedores/ Acaba um mundo por dia em meus arredores/ Mas já houve mundos piores/ O silêncio que foi costurado/ Quando é que alguém vai encontrar/ O grito que um dia foi guardado / Polícia e bandidos podem ficar parecidos/ Técnica investigativa, para outros, castigo/ Todos juntos na mesma emoção/ Deformando a verdade, a vitória e a visão / Buzina, TV, fogos de artifício/ Todos os sons que costuram o tecido/ Por isso você não vai enxergar/ Quando o Grande Grito te procurar/
Veja o clipe da música “Tem sempre um idiota querendo me ensinar uma lição”, do CD “A Eternidade do Caos. Grito de liberdade, tapa na cara dos hipócritas, dos autoritários e dos amigos por conveniência.
O clipe de Verde e Amarelo foi o segundo dedicado ao cd 15 Abismos, o trabalho de estreia. A ideia e a realização foram levadas à frente por Ricardo Caulfield, e Guilherme Schneider, do Canal Riff. Mesmo o CD tendo sido lançado, bem antes, em 2002, o ano de 2014 era muito convidativo, com uma Copa do Mundo, ali na esquina e muita gente vestindo verde e amarelo..
Era um projeto inusitado: misturar hardcore e playmobil, sugerindo o clima de violência e injustiça social que sempre houve no Brasil, ainda que tudo fosse ficar muito pior nos anos seguintes.
As imagens e tema polêmicos, com bonecos bradando armas e vestindo roupa amarela, de certa forma anteviram o cenário caótico e ufanista que tomou conta do Brasil em 2018. A violência policial integra a narrativa do crime.
Mas, independente do teor crítico da música, a graça do clipe certamente está na presença dos playmobis como atores para uma ensurdecedora trilha sonora. Ressaltando que nenhum playmobil se feriu durante as filmagens!